segunda-feira, 22 de novembro de 2010

o peito expande, o coração enche e o ar seco e rarefeito fica longe do pulmão, o sufoco é silencioso e o inverno de 35º...








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Fiquei de costas para a Tia hoje... a estação caminhava mais frenética hoje, quase não se via os rostos de ninguém, olhares afobados, ônibus engarrafados, a buzina, os gritos, os filhos segurando forte a mão da mãe, na direção do sol, a saída quente, o carbono nas pêras, a água nas goiabas, o cigarro na banca ao lado e o suco da Tia parado porque a máquina quebrara agora, nesse exato momento, caiu suco para todo lado esquerdo da plataforma, as roupas da Tia com estampas de frutas, agora tinha sabor e era de caju, o suco descia o ralo misturando a catarros de um aleijado que mijara na roupa e arrastava para o suco não sujá-lo.
Olha só, mais um dia na estação, na estação, na estação outra vez, clima de fumaça perseguida! Geralmente as quintas – feiras minhas manhãs são tristes e sem Tristezza, o peito expande, o coração enche e o ar seco e rarefeito fica longe do pulmão, o sufoco é silencioso e o inverno de 35º. Isso me vale um ar do bosque, não? Um sossego, um bar. A solidão é a companheira, as  vezes ela sai, foge, parece estar longe, num canto da Groenlândia, irremedeable dolor.
Vou entreter-me pelo caminho, pelo caminho da estação, pelos trieros da mente, entreter-me pela vida afora, pelas horas, pelas linhas, pelas fumaças, pelas tabelas. Entorpecido pelo som do transito e obcecado pela paz, e sem esquecer que é mais foda que depender do pó, é depender do poder. Antes sujar o nariz que sujar a alma. Precisamos nos libertar, comunicar conosco, comunicar com o mar e com a poeira geológica que fica presa nas narinas, como sou resto de pó de estrelas me comporto como tal. Comunique com o mar. Não se entregue as alas rotas.

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                                   Se eu pudesse, eu te dava meu sotaque...



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