segunda-feira, 1 de agosto de 2011

o adriático no balanço de sua rede começa a juntar algumas palavras, tentando angariar sentidos...






No sétimo dia o Senhor descansou, mas um habitante da região de Ádria,
 na Itália,
 acordou sonolento e,
 ainda assim,
 lavou sua casa,
 lavou seu cachorro,
limpou suas gavetas,]
... inesperadamente cozinhou sua comida,
 deliciou-se de algumas músicas,
 pegou a sua bicicleta,
 vestiu sua mala vazia e sua blusa vermelha e foi à cidade mais próxima.
→→ Lá,
 ele reviu alguns amigos ganhou algumas ervas,
 fumou alguns cigarros,
 riu um pouco e encheu a mala de condimentos e voltou para a sua cidade,
 para a sua casa limpa,
 para o seu cão limpo.
No meio do seu caminho havia muitos outros sujeitos trajando suas malas,
 deixando rastros de sua trajetória,
 alguns rastros de sujeiras e lixo,
 animais,
 assim como qualquer adriático de qualquer lugar, sentindo o cheiro do asfalto, o cheiro do sal saindo pelos poros, o sal que ele jantou ontem, naquela enigmática carne de porco, esse trajeto de uma cidade à outra ele pode perceber muitas coisas que até então ele ignorava por completamente.
A cor do asfalto da casa dele, o som do seu meio, a cor da sua terra, o fluxo de seus desconhecidos vizinhos, os costumes dos bairros vizinhos. Outra vez , em casa, o adriático no balanço de sua rede começa a juntar algumas palavras, tentando angariar sentidos, que mesmo que alterados possa fazê-lo aprender a construir alguns estados de mente onde ele possa outra vez tentar ficar mais leve e matar alguns demônios com dentes de roedores, mas que não foram páreos para a borracha do pneu de sua bicicleta.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

linhas em branco...


A linha que corta a página me divide em dois, me divide o raciocínio que deveria ser continuo, que deveria ser meu, mas que está em uma página que ainda não li de um livro que não conheço, de um poeta que não existe. Talvez, a volta para a casa, andando pelas ruas que eu acho que conheço me levam para o lugar onde eu não quero estar, mas sei que devo estar, que não suporto, mas sei que preciso. A música que escuto enquanto caminho me leva, me guia, me faz sonhar com o que eu quero, mas sei que não existe. Talvez a felicidade que busco esteja engarrafada e perdida em um mar que só existe em mim, tão vasto, tão grande, tão meu, tão inalcançável, e assim continuo perdido entre ruas que não me levam a lugar nenhum, entre ondas que me jogam contra pedras. Talvez eu esteja naufragado e não saiba, mas quem saberá além de mim? Talvez, a poesia esteja no silêncio que eu não conheço, mas sei que existe, talvez tudo que eu entenda seja um reflexo de mim, um reflexo desconhecido, mas sei que é meu. Quem sabe minha loucura seja perdoável, quem sabe eu esteja de volta ao acordar?

às vezes...



Às vezes...mas só ás vezes.

As vezes a mão não acompanha o raciocínio, me perco dentro de mim, e o que é pra sair, não sai, se perde, isso vem de outro lugar, mas pode ser que saia por aqui, mas às vezes a inspiração vem através de uma caneta sem tampa, em uma noite fria que não acaba, que  mostra por um momento pequeno que a capa de uma atlas pode carregar o céu nas costas e sustentar as estrelas  no céu penumbrante e sórdido nos meu olhos.
Oh, meus olhos que não me deixa mentir, pois camufla todo o ser dentro de uma lente invertida, mas que mesmo assim me mostra as cores que não sei se existem... mas a paciência mesmo que num volume baixo na madrugada fria, me ensurdece o silencio... afinal, a vida é rara... É um passo de valsa, um giro encantado que nos vicia. Será que temos tempo? Será que o tempo nos deixar lembrar isso? Será que essas linhas tortas que escrevo olhando o buraco negro que se abre diante disso tudo tem algo de mim? Mas, só as vezes sinto que tudo vale, que tudo existe, que uma viagem de ônibus me leva a mim mesmo, que leva a sentir o que quero, já não sei se isso é verdadeiro, mas as vezes,  só as vezes mesmo, sinto falta da pessoa que me torna, falta do atlas segurando o céu pra que eu não me preocupe com o amanhã que deve nascer assim que fechar meus olhos...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

ao cronopinho que usa amarelo...








Ao cronopinho que usa amarelo...

...voltando aqui no sétimo andar e meio, após o longo e ofegante subir de escadas, isso me demorou alguns séculos, novamente estou...
...daqui de cima a vista é linda, ainda que meus olhos nunca enxerguem o horizonte em que estou pisando, nesse caminho pisado...
...daqui vejo o quanto você é belo e peculiar, seu assombroso e tortuoso ser, um casco resistente, o seu falar pausado, em etapas, sua pupila dilatada, seus olhos no além, a raiz que tenta em vão aprofundar-se no solo seco e arenoso, a raiz em vão fixa-se em areia, sem minerais, uma excentricidade em extinção, e ameaçado pelo homem, sempre o homem, com seus tratores e suas correntes sempre ali te derrubando as pernas e sangrando suas raízes. Não sei se daqui a fumaça embaça, não sei se daqui de cima meus olhos me dão uma nova configuração, mas sua beleza parece estar em sua extinção!

... e quando o texto parecer acessível e bonito e você estiver escutando a voz do narrador de seu filme preferido, a ofegante respiração não me deixará terminar, para que o ultimo folego de ideia seja guardado pra mim...


quinta-feira, 31 de março de 2011

quarta-feira, 30 de março de 2011

...no entanto, ainda há um vazio lácteo nessa engrenagem toda...







            No entanto, toda essa engrenagem, movendo lentamente, solta, suspensa, o universo expandindo numa flor de lótus, a velocidade, o espaço sobre o tempo, a nicotina virando cinza, as nuvens pairando na atmosfera de pensamentos evaporados, o processo de produção de pensamento, de formação de cumulus-nimbus, a construção do cirrus, a desconstrução do stratus, ainda assim vejo nuvens, e...

(pausa)
        No entanto,, se dissolvem na minha cabeça alta, precipitando meus passos, o espaço sobre o tempo da erva que brota ali perto do semi-árido do horizonte orgânico do poço do meu coração, de magnetita titanífera, onde uma substancia escura circula, o Sódio, o Cálcio e o Potássio dançam ao espaço sobre o tempo, o pó, o universo, a flor de lótus, a nicotina, a cinza, viram tinta preta, tal qual o espaço sobre o tempo, e ...

(pausa)

        No entanto, são partes de um instante só, de um rio que deságua no mar, onde quer que ele corra o oceano é seu fim e seu começo e seu processo, o suspiro, o processo criativo, é sua transformação, sua poesia e sua ruína, é o ser e sua efêmera aparição...

(pausa)
        No entanto, o vento parece-me expressar melhor a idéia que está presa, numa teia verde, o vento apenas adentra um local se há a porta de saída, a entrada é saída e carrega consigo todos os odores, todo o pó, sempre semeando os sedimentos, e, 

(pausa)
        No entanto, ainda há um vazio lácteo nessa engrenagem toda, mesmo nessa escrita escrota que       me custou 17,25 centavos!

( ________).


terça-feira, 22 de março de 2011

...um silêncio líquido típico de assoalho de rio...







Meus pensamentos estão úmidos, escuros, densidade alta, submerso num rio, escondido por trás as rochas máficas, quase impossível pescar algum, muito escuro, um silêncio líquido típico de assoalho de rio, pensamentos sedimentares, ações metamórficas, meu cérebro danificado, minhas sinapses petrificadas. Um corpo frio, uma garganta que dói, solto a fumação e as borboletas saem escuras, intoxicadas e ainda voam around my head... around my head...

Borboletas! Uma aparição, ela pariu, deu luz à luz, luzia, deu luz a um relâmpago, pariu um fantasma, um flash, uma fotografia, uma fotofobia, ela pariu Descartes, ela é avó de quem? Avó do uivo? Do desespero? Do lobisomem ou de um estômago?
Ela apareceu novamente, pariu um novelo enquanto lia uma novela e assimilava porcarias em paginas datilografadas. Ela sofria, o chato sorria e ria como hienas humoristas (com dentes afiados) avistando galinhas caipiras, percebia que carregava um coração que fora colado com cuspe ou seria tinta de polvo?


sábado, 12 de fevereiro de 2011

... I am like God, and God like me. I am as large as God, He is as small as I. He cannot above me, nor I beneath Him be




Qual a voz que me chama pra sair para a noite, para a rua? Ás vezes parece um sussurro, é difícil, sempre me atrapalho com as vozes que insistem em ecoar no oco, com o barulho da city... Não sei se é um sussurro, as ceras de meus obstruídos ouvidos começaram a vibrar e sinto na pele o peso da bigorna surrando o martelo, o atrito, o restrito e um bolso falido são suficientes para me deixar tonto, zonzo e sem sono. A lua está clara, redonda e baixa, meus olhos estão baixos, escuros e dilatados... enfim, a lua chama, a noite chama, o cigarro em chamas. Um banho, um cigarro, um telefonema, a tela, na esquina uma buzina, só mais uma mijada, mais uma escarrada, um perfume e o tubo no bolso.
            Estou pronto! Estou pronto? Ainda não, ainda há muito... há um calafrio estranho, há uma fumaça estranha, confusões mentais, erros letais... essa fumaça que esboça um pré desespero, me lembra o instante que vi Horácio Oliveira saindo da boca de Max Cady, gritando para o léu, para o interior e quem sabe para algum advogado...  I am like God, and God like me. I am as large as God, He is as small as I. He cannot above me, nor I beneath Him be ... Palavras Silisianas do século Xll e vai durar pra sempre, as vezes as canções do Mister Tambourine alivia um pouco, por instantes, as vezes por uma levada de sono...
Silisio pariu essas palavras no século Xll, Horacio surgiu para a eternidade em 1964, Max Cady gritou - as em 1991, nasci em 1983 e as ouvi em 2011.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

, o crepúsculo conversa, sua voz rouca e cansada entra no ouvido, e o peso toca o fundo do coração. Sua voz é lenta, sua fala é pausada, sua voz é velha e muito sábia ...





A cidade surge por detrás às árvores, a cidade é cercada por tortuosas árvores, galhos emaranhados uns nos outros, em volta da cidade há seres invisíveis que visitam as famílias durante o sono da madrugada, a noite é quente. Para ir de uma cidade a outra caminha-se horas debaixo do céu, caminhos de pedras e arvores.  Dormem suspensos do chão, longe de seres rastejantes, longe de qualquer lâmpada acesa, aqui se enxerga com a experiência vivida e aqui enxerga-se vagalumes durante a noite escura e escuta-se o cantar dos sapos. Aqui nessa cidade não há árvore genealógica, há um mosaico genealógico, onde as peças mesmo que tortas como os galhos são importantes e se harmonizam numa forma sincera, bonita e desesperada. Quando o sol vai indo pro Japão, o crepúsculo conversa, sua voz rouca e cansada entra no ouvido, e o peso toca o fundo do coração. Sua voz é lenta, sua fala é pausada,  sua voz é velha e muito sábia, o tempo é alaranjado, estamos perto do El Dorado, perto do bico do papagaio, é alaranjado como a cachaça de mel que escorre em sua vida, na boca o mel e o álcool descem junto com a carga de emoção garganta a dentro e com um arrepio inicio minha epopéia, da ponta do pés, dos cigarros dos fiapos, reconstruo o meu mosaico, que agora está mais completo e colorido. O crepúsculo é a primazia da vida gasta desde dos séculos passados, fonte de conhecimento de mim mesmo, leio –me naqueles olhos, decifro-me naquele timbre de voz, uma voz infinita, carregada de símbolos, sentidos, mostrando que cada respiração é digna de uma celebração.